La Stratégie

by Alexander Sweden

Etiqueta: Capacidade técnica

Fernando Torres já não interessa à primeira divisão europeia?

Fernando Torres tem capacidade técnica, sabe decidir com bola, mas isso é pouco perante as exigências dos grandes clubes europeus.

Apesar de tomar boas decisões com bola, opta demasiadas vezes por receber a bola no pé, apostando pouco na conquista do espaço de forma assertiva (o que só a boa decisão sem bola permite). Isto determina que  o avançado espanhol se encontre demasiadas vezes num espartilho quando recebe a bola e se torne inconsequente. Se tivesse uma capacidade física assombrosa (tal como a velocidade e poder para aguentar o choque), aliada à sua capacidade técnica, até poderia mascarar o défice  da decisão sem bola, mas como não tem e estagnou no processo evolutivo, no que à decisão sem bola diz respeito, vê outros jogadores menos dotados no aspeto de decisão com bola (como Diego Costa) deixá-lo a milhas de distância.

Há também o aspeto mental. Quando este se revela depressivo, tudo o que de bom tem um jogador passa a ser pior do que deveria. Quando o estado anímico é positivo, o que é mau, deixa de ser tão ruim, e o que é bom passa a ser maravilhoso.

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A falsa doutrina ou o direito a viver no Matrix?

Leio aqui que o Nélson Oliveira é detentor de um “Perfil incrível físico e técnico que não tem acompanhamento no que mais importa. A tomada de decisão.”

Ou seja, sobrevaloriza-se um aspeto que secundarizamos (perfil físico e técnico), constata-se a realidade (a fraca performance desportiva do atleta) para manifestar o quão crucial é o aspeto que o atleta não tem e ao qual que damos primazia (decisão), sustentando assim uma teoria contra tudo e contra todos (nem que isso leve alguns incautos a endeusar o Postiga e a desprezar o Diego Costa).

Pena é que deitando a mão a sofismas deste tipo consigo comprovar qualquer teoria por mais irreal que esta possa ser. Porque não criar um blog onde se defenda a teoria que todos habitamos dentro de pequenas incubadoras cheias de líquido amniótico e que é o Matrix o responsável por criar a ilusão de termos vidas perfeitamente normais?

Basta sobrevalorizar o aspeto que secundarizamos (os 5 sentidos), constatar a realidade (a incompreensão da razão da vida) para manifestar o quão crucial é o aspeto que o homem não tem e ao qual damos primazia (os deja vus), sustentando assim uma teoria contra tudo e contra todos (nem que isso leve alguns incautos a endeusar os mitos urbanos e a desprezar o conhecimento científico).

Desde quando o Nélson Oliveira tem um perfil incrível no que quer que seja?

Sabendo que a capacidade física está associada à força, capacidade de coordenação,  velocidade, flexibilidade e agilidade (ver aqui), o avançado português destaca-se apenas num aspeto da força (aguenta o choque mas falta-lhe remate e poder de impulsão) e na velocidade, mas pelo número de lesões que já leva no cadastro não me parece que seja excecional na capacidade de coordenação. No que respeita à flexibilidade (permite determinados gestos técnicos específicos) e agilidade (permite realizar mudanças rápidas de direção), constato que não é nada de extraordinário. Dito isto, posso concluir que o Nélson Oliveira não tem um perfil incrível físico.

Sabendo que a capacidade técnica de um avançado é sinónimo de habilidade para lidar com a bola nos mais diversos aspetos de jogo (ex. Receção, drible, passe, remate e guardar a bola), Nélson Oliveira não é fora de série em nenhum dos parâmetros. Apresenta mesmo grandes lacunas ao nível do remate (o que para um avançado é um grande handicap), drible e passe.  Dito isto, posso concluir que o jogador português não tem um perfil incrível técnico.

Resumindo, o Nélson Oliveira não é incrível nem nos aspetos físicos, nem técnicos. Tendo em conta que ao nível da decisão é muito fraco, e contando já com 23 primaveras, não será risível que venha a tornar-se um jogador para um grande. No entanto, e mesmo não sendo este o cenário ideal, se o atleta ostentasse altos níveis físicos e técnicos e continuasse a não tomar maioritariamente as supostas melhores decisões, apresentaria muito mais potencial para jogar ao alto nível, compensando o défice decisório com aqueles atributos, porque a vida real, fora das bibliotecas ou das bancadas ou do futebol amador, demonstra-nos que estes atributos só por si resolvem inúmeros problemas e podem aproximar a equipa do sucesso variadíssimas vezes.  O problema é que o Nélson Oliveira além de ser fraco a decidir, física e tecnicamente não é nada de extraordinário, e é devido a esse facto que o aspeto decisório é mais notório e mais lesivo para a equipa. Se ele fosse extraordinário do ponto de vista físico e técnico, a capacidade de decisão seria mascarada, e a mais-valia que representava para a equipa poderia atingir níveis que lhe permitissem assegurar a titularidade e ser alvo de cobiça por parte de grandes treinadores.

O perfil do Nélson Oliveira não prova o quão vital é a decisão no seu caso em concreto, antes demonstra o quão vital é para um jogador que não reúna altos padrões decisórios, que os compense com altos índices técnicos e físicos, o que não é o caso.

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Porque o cérebro com que nascemos não basta.

A propósito do simulador 360S cumpre-me o seguinte desabafo:

Saber decidir é muito importante no futebol, sempre o foi, e vaticino que continuará a ser, mas esta capacidade torna-se uma mão cheia de nada se deixar de ser fomentada pelo treino, e se este não for aproveitado para incrementar outros parâmetros (físicos e técnicos). Ao contrário do que se apregoa, a velocidade, a força, a agilidade, com verdadeiro impacto desportivo, não são fáceis de alcançar num mundo tão competitivo. Requer esforço, requer deixar de acreditar na história da carochinha que leva muitos jovens a deixar de trabalhar mais do que os outros só porque nessa faixa etária decidem melhor do que os outros. Que caminho perigoso é este de tornar um bom indiciador numa verdade absoluta que garanta o êxito.

Zidane trabalhava mais do que os outros. Ronaldo trabalha mais do que os outros. O treino, e a forma como este é levado ao limite, assume, cada vez mais, uma importância vital porque potencia as capacidades físicas e mentais. O treino pode e deve valorizar ambas as vertentes e só através desta simbiose, o jogador de futebol pode singrar. A capacidade de decisão, sem capacidades técnico-físicas à altura, torna-se ínfima. A técnica e a física, sem o uso do cérebro, torna-se um desastre.

O mundo não é a preto a branco (por mais que nos ajudasse a compreender o fenómeno futebolístico). Na cor cinzenta, cabe a preocupação do treinador em potenciar, através do treino, os aspetos físicos e os aspetos decisórios, já que estes devem andar de mãos dadas. Quando falta um deles, o outro ressente-se, fica órfão e a carreira vai-se.

Tiki-taka?

1Tendo em conta que a blogsfera leonina (e a capa do jornal Record) anda em polvorosa com o lance do terceiro golo do Sporting no último jogo da Champions, achei interessante partilhar convosco alguns, poucos, comentários.

Qual era uma das chaves do sucesso do tiki-taka? Seguramente o adormecimento do adversário através de constantes trocas de bolas (normalmente através de passes médios e curtos) para depois, num ápice, num gesto repentino, quebrar a monotonia e atacar o adversário, tal predador que se mantêm inamovível até despoletar o golpe fatal na vítima distraída. Neste caso, o golpe fatal foi dado por “La Culebra” (suportado por índices físicos fora do normal) e uma decisão (mental e física) bastante oportuna (nem sempre abundante neste jogador).

O lance em análise (disponível aqui) utiliza a mesma fórmula (mas é distinto jogar tiki-taka do que fazer algumas jogadas pontuais de tiki-taka, realidade esta que se observa em muitas equipas de futebol) e é digno de louvor, não só pela dificuldade de haver sucesso quando tantos elementos dão o seu contributo, como pela beleza plástica que nos proporciona.

O mais curioso, no entanto, é que no meio de tanta boa decisão, o que proporcionou a melhor delas (o passe de morte do peruano), foram os aspetos técnico-físicos do Carrillo. No contexto da boa decisão muitas vezes o aspeto catalisador, o que permite subir o degrau da excelência no aspeto decisório, é o físico e a técnica. Sem estes, a decisão muitas vezes é exercida apenas num âmbito de entretenimento do que num aspeto crucial para sucesso da equipa. A melhor decisão (a que mais contribui para o sucesso), muitas vezes está refém de um lampejo de força, de velocidade ou do drible fora do comum de algum dos seus intervenientes. Porque o futebol não é xadrez, não necessita apenas do cérebro, porque sem um físico que lhe dê corpo, as boas ideias podem não sair do plano intermédio. Dão boas oratórias, mas muitas vezes não ganham jogos.

Soltas

Carrillo a quebrar mitos. A capacidade física não é igual em todos os seus vetores entre todos os atletas de alta competição. As pequenas diferenças podem traduzir-se na prática em enormes diferenças. No que respeita à velocidade, Carrillo é muito mais rápido que o seu opositor da equipa alemã. Foi essa distinção que permitiu o golo do Sporting nascer. A decisão (com bola) foi fundamental, mas sem os atributos físicos e técnicos que a antecederam aquela nunca teria tido lugar.

Naby Sarr, por mais que seja tentador olhar para aquele físico e o estilo slow motion e crucificar (coisa que um profissional nunca deve fazer com base em meia dúzia de jogos, muito menos perante um atleta estrangeiro e jovem.  O debitar de sentenças prévias são para os adeptos) a verdade é que pode progredir muito através de um plano de melhoria criterioso (voltarei a falar nisso num futuro post). Não é propriamente lento, usa a sua alta estatura para cobrir o jogo aéreo e o pé esquerdo não é cego. Terá que melhorar ao nível de perceção do jogo, da distância que deve estar do sector do meio campo  e dos seus colegas defensivos em cada contexto (onde a defesa leonina contínua a mostrar lacunas, e que erroneamente se chama de profundidade, potenciando o erro do jovem francês) , mas tendo em conta os 21 anos de idade, o facto ser estrangeiro e estar a vivenciar uma primeira experiência extramuros, há motivos para otimismo (as declarações de Marco Silva no flash interview sobre a evolução dos jovens jogadores expressam exatamente esse sentimento).

Cédric dá mais no momento ofensivo num jogo que o André Almeida em meia volta do campeonato. Defensivamente, não há tantas diferenças como se quer fazer parecer (até porque o jogador benfiquista tem beneficiado de uma maior proteção intersectorial, leia-se trinco e ala, que o  jogador leonino). Continua-se sem perceber as opções do Paulo Bento nas suas últimas convocatórias.

A evolução de Slimani ao nível do transporte de bola, da técnica de receção e passe têm sido demonstrativas que mesmo com 25 anos de idade se pode evoluir, mais ainda quando se passa de um contexto da 3.ª divisão mundial para um ambiente de trabalho potenciador do processo de aprendizagem.

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Quando as boas decisões ficam reféns de outros parâmetros

Analisando alguns lances do Bayern de Munique versus Borussia Dortmund do passado recente:

0:21

Mkhitaryan apesar de ter tido a oportunidade de passar para o seu colega que se aproximava do seu lado direito e que ficaria em melhores condições para marcar, ainda assim tomou uma boa decisão com bola (mental e física), aproveitando o desequilíbrio defensivo do Bayern de Munique e ficando numa ótima posição para faturar. Como faltou uma melhor técnica de remate, a boa decisão anteriormente tomada deu uma mão cheia de nada.

0:34

Lance à Diego Costa. Muller decidiu bem sem bola, surgindo oportunamente no espaço. Faltou melhor técnica de remate e por isso o lance perdeu-se. Executar nestas condições é muito difícil. Não me espantaria que uma melhor decisão com bola teria sido aquela que o Diego Costa fez no vídeo colocado num post anterior. Receber primeiro, porque permite enquadrar com a baliza e só depois fuzilar.

1:30

Robben, primeiro decidiu bem (em termos mentais) mas depois decidiu mal (em termos físicos). Quando decidiu colocar o pé daquela forma, decidiu mal. Não era assim que devia ter executado o que tão bem tinha planeado previamente (décimos de segundo antes).

1:55

Robben através de um passe magistral isolou Muller. Recordando a fórmula para graduar a decisão com bola de Robben: Probabilidade de execução bem-sucedida (de 0 a 10) X Taxa de contribuição para o sucesso (de 0 a 10) eu daria: 8,5 X 9 = 76,5 (em 100).

A taxa de contribuição para o (eventual) sucesso é alta, mesmo não havendo sucesso nenhum.

 

 

 

 

Boa decisão contra o resto do mundo

Este post surge na sequência da análise e de várias discussões salutares na caixa de comentários do blog Lateral Esquerdo. Partilho aqui, com os meus leitores, algumas ideias essenciais que defendo, trazendo à colação a famigerada “boa decisão”.

Antes disso, aproveito para afirmar que está a nascer uma escola, entre supostos entendidos de futebol, cujo objetivo passa por colocar o item “boa decisão” no pedestal, como se tivessem descoberto a pólvora. Trata-se uma escola errada, perigosa, perversa, e que leva a erros crassos na avaliação de um jogador, permitindo, por exemplo, que se certifique que o Postiga seja colocado no céu e o Diego Costa no inferno. Quando devia ser precisamente o contrário.

Às vezes denoto o erro de muitos comentadores do referido blog ao pretenderem encaixar tudo nas devidas prateleiras, para ficarem descansados e pensarem que percebem de futebol, quando as prateleiras estão todas ligadas entre si. E depois somos obrigados a ler barbaridades que dizem que o Postiga é bom jogador ou que o André Martins é muito melhor que o Adrien Silva. Analisando apenas uma das gavetas, até pode ser, mas na comunicabilidade com as outras, qualquer um daqueles se revela ser um jogador fraco quando comparado com a nata do futebol. Analisar um jogador apenas numa determinada perspetiva leva a um erro de avaliação. Analisar um jogador e louvá-lo apenas tendo em conta a componente “ boa decisão” é não perceber o que é o futebol. É querer transformá-lo num jogo de xadrez quando é muito mais do que isso. E depois não percebem como um determinado jogador, que supostamente devia ser fraco (de acordo com uma análise redutora) é afinal tão requisitado por grandes treinadores e resolvem o dilema assobiando para o ar na esperança que as pessoas se esqueçam que a teoria defendida tem mais buracos que um queijo suíço.

Um jogador tem de ser avaliado num conjunto de competências interligadas entre si. Diego Costa é fraco na decisão? Podemos considerar que sim, só que compensa com outros aspetos que deixa a léguas jogadores que só são bons na decisão. É muito pouco ser-se bom na decisão e esquecer tudo o resto. Eu não quero na minha equipa um jogador que só decida bem, mesmo que isso depois me traga vídeos fabulosos para expor no meu blog. Será dispensado se não evoluir em outros parâmetros.

Defendo que a boa decisão é importante, mas não se deve descurar os atributos técnicos e físicos (do executante e do companheiro), já que que são demasiado cruciais para serem esquecidos.

Sobre a relação dos aspetos técnicos versus atributos físicos, porque parece que há também uma tendência para desprezar a componente física em detrimento da técnica, quiçá porque nos dá um ar mais professoral, recordo o Ronal Koeman. Era tecnicamente evoluído no aspeto do remate, mas sem capacidade física associada a este vertente técnica nunca teria mandado tanto balázio com sucesso para dentro da baliza.

Qual a razão do Cristiano Ronaldo trabalhar tanto a vertente física? Não será apenas uma questão de vaidade. Ele sabe que para potenciar os índices técnicos  e de decisão (seus e dos colegas), estes devem estar suportados em aspetos físicos assombrosos.  Acham que o avançado português aparece tanta vez em posição favorável para marcar porque tem mais sorte do que os outros? Acham que a boa decisão sem bola que manifesta é apenas porque tem uma extraordinária capacidade intelectual de encontrar lugares vazios para receber bola? Analisem a intensidade de CR7 na busca de espaço (sem bola) e tentem imaginar a capacidade física necessária para concretizar tal desiderato.

Falava-se (falei) também na caixa de comentários do referido Blog do Ricardo Quaresma. Já alguém experimentou mandar alguma trivela foguete? Acham que o golo do Lamela é apenas técnica? Experimentem rematar de letra, num gesto técnico perfeito, e verão que a bola saí a uma velocidade ridícula se não suportada por aspetos físicos fora do normal.

Quaresma, por exemplo, que nem é dos meus jogadores preferidos, decide mal, mas compensa muitas vezes isso com outras componentes importantíssimas no jogo. E por vezes essas componentes tornam-no num jogador mais importantes que um jogador que decida quase sempre bem mas em que lhe falte tudo o resto. Conforme defendo, futebol não é xadrez. A “boa decisão” é importante, mas amputar tudo aquilo que a suporta é querer olhar para o mundo através de um canudo. Pior do que isso, é quando esses indivíduos, ainda que de forma tácita, pretendem arrogar-se que sabem mais do que os outros, mesmo perante aqueles que optam por ver todo o panorama e que analisam o futebol como um todo desde os primeiros dias da sua vida.

Ainda o golo de Portugal

Neste vídeo é possível constatar o perigo do 3X3+ GR no processo defensivo. Fatal quando os intervenientes são executantes de primeira água. Já agora, note-se  o mau posicionamento de dois jogadores portugueses à entrada da área (lado direito) que se anulam mutuamente. Algo que se entende face ao momento do jogo, mas que ainda assim deve ser corrigido.

Passe versus boa decisão

Analisando a segunda parte do jogo França X Portugal, salta à vista o passe de Benzema para o golo de Pogba em contraponto com o passe de Éder para o remate, sem êxito, de Ronaldo. Este lance ajuda a explicar a importância da tomada de decisão, mas principalmente da importância da qualidade do passe e o momento em que ele é executado. Ambos os jogadores decidiram bem (ainda assim, um melhor que o outro), mas apenas um deles manifestou uma boa técnica de passe. Quem executou bem viu a sua equipa marcar (o fim último do futebol). Quem executou mal viu a sua equipa falhar. Haverá oportunidade para falar nas qualidades e nos defeitos do avançado francês (num post futuro), mas o que importa aqui é centrar na máxima pensar bem é importante, executar corretamente é muito mais.

Passemos à análise:

Benzema:

No lance que antecede o golo de Pogba, Benzema viu-se confrontado, pelo menos, perante três opções: rematar/contemporizar/passar.

Rematar: Marcado de perto por Ricardo Carvalho, a hipótese de Benzema ter sucesso (leia-se, marcar golo), seria reduzida. A técnica de remate tampouco lhe valeria de muito, porque rematar naquele espaço exíguo de terreno com um adversário à sua frente estaria potencialmente reduzido ao fracasso.

Contemporizar: Guardar a bola na grande área adversária com vários adversários na sua zona de ação obrigaria Benzema a perder tempo e a virar-se de costas para o objetivo (baliza/golo). Esta solução aumentaria a possibilidade de insucesso (só haveria sucesso se eventualmente ganhasse um penalty perante um erro crasso do adversário), porque contemporizar em zonas de terreno lotadas de adversários normalmente dá falta (tratando-se da grande área esta hipótese desce radicalmente) ou perda da posse da bola. Havendo outra tomada de decisão disponível, que potencia o sucesso, a contemporização perdeu naturalmente a sua razão de ser.

Passar: Benzema, no momento em que tem a bola, tem um colega (Pogba) a vir nas suas costas sem oposição frontal (Pogba está posicionado entre Ricardo Carvalho e Eliseu) e portanto numa situação mais favorável para faturar. Lateralizando a bola com conta, peso e medida, Benzema potenciou as hipóteses do equipa marcar. A forma como o francês colocou a bola (rasteiro e sem imprimir demasiada velocidade à bola) foi meio golo. Pogba, bem posicionado, com tempo para tirar as medidas à baliza, confirmar o posicionamento dos oponentes e focar-se no local e momento onde o seu pé se encontraria com a bola, concretizou o golo.

Éder:

No lance que antecede o falhanço de Ronaldo, Éder viu-se confrontado, pelo menos, perante três opções: rematar/contemporizar/passar.

Rematar: De costas para a baliza e marcado de perto por Mangala, a hipótese de Éder ter sucesso (leia-se, marcar golo), seria reduzida. A técnica de remate tampouco lhe valeria tal como explicado anteriormente (com a agravante de estar de costas para a baliza e da bola vir pelo ar).

Contemporizar: Guardar a bola na grande área adversária com vários adversários na sua zona de ação obrigaria Éder a perder tempo. Esta solução aumentaria a possibilidade de insucesso pelas razões já explicadas. Havendo outra tomada de decisão disponível, que potencia o sucesso, a contemporização perdeu naturalmente a sua razão de ser.

Passar: Éder, no momento em que recebe a bola, tem um colega (Ronaldo) a vir do seu lado direito, de frente para a baliza, com menor oposição (porque o adversário direto estava mais longe) e com maior ângulo para rematar e portanto numa situação mais favorável para faturar. Lateralizando a bola com conta, peso e medida, Éder potenciaria as hipóteses da equipa marcar. A forma como o português colocou a bola aos trambolhões (em balão) e demorou em decidir (não devia ter deixado a bola bater no chão) agravou as hipóteses de golo. Ronaldo, bem posicionado (não tão bem posicionado como Pogba e não tão bem posicionado se o Éder tivesse colocado de pronto a bola), com tempo suficiente para tirar as medidas à baliza, confirmar o posicionamento dos oponentes e focar-se no local e momento onde o seu pé vai bater a bola (tarefa mais difícil para o português porque quando a bola vem numa trajetória pouco linear e pelo ar, o cérebro humano tem que fazer mais cálculos para decifrar o local e o momento exato em que  o remate se dá) falhou o golo. Boa tomada de decisão de Éder ainda assim mas péssima execução técnica de passe (a forma como este faz o passe com a bola a saltitar à sua frente é nitidamente inferior ao que o francês fez perante a mesma problemática).

Para sermos justos importa referir que, por um lado, Éder  tinha uma tarefa um pouco mais difícil porque o passe veio pelo ar enquanto o francês recebeu a bola pelo chão, mas por outro, tinha confronto visual com recetor do passe, enquanto o francês não. De qualquer maneira Éder nunca deveria ter deixado a bola bater à sua frente, mas atacá-la de imediato e colocá-la pelo chão para Ronaldo rematar. Não custa acreditar se no lugar do Éder tivéssemos um Benzema, Ronaldo provavelmente teria sido alvo de uma melhor assistência e teria marcado. Isto ajuda a explicar porque Ronaldo marca muito mais no Real Madrid que ao serviço da Seleção.

 

A técnica

Desde que me lembro, tenho ouvido supostos especialistas afirmarem que determinado jogador é bom ou é mau tecnicamente. Importa então questionar o que significa “técnica” no contexto futebolístico. Aqui defendemos que é sinónimo de habilidade para lidar com a bola nos mais diversos aspetos de jogo. A técnica pode deste modo dividir-se em 8 sub conceitos:

– Receção: Zidade era um dos expoentes máximos. Se houver boa capacidade neste parâmetro, a bola, venha ela de onde vier e como vier, estará condenada, à partida, a ficar limitada à esfera de atuação do recetor. Dentro deste conceito, podemos distinguir receção pura e simples da receção orientada. A primeira significa dominar a bola sem qualquer outra preocupação senão esta. Dominar esta abordagem permite que a equipa mantenha a posse de bola. A segunda acontece sempre que o jogador não só domina a bola, como, nesse gesto, a prepara para dar-lhe sequência: passe, remate ou apenas a proteção do esférico. Esta última vertente, além de permitir que a equipa mantenha a posse de bola, potencia maior imprevisibilidade quando comparada com o domínio puro e simples.

Neste vídeo (aos 17  segs.) é possível verificar uma extraordinária receção orientada por parte de Zidane.

– Drible: Está relacionado com a capacidade que o jogador, com bola, tem para retirar o adversário da zona de cobertura e não implica obrigatoriamente que seja executada em corrida, já que existem as chamadas fintas de corpo (a lembrar Ronaldinho) que podem revelar boa capacidade de drible, sempre que com estas se consegue enganar o adversário e tirá-lo da zona nevrálgica de ação. Normalmente “técnica” associa-se sobremaneira ao parâmetro “drible”. Discordamos por ser demasiado redutor. Técnica é muito mais do que isso;

– Passe (curto, médio, longo, reto, em arco, tenso, bombeado, etc.): Beckham foi um dos jogadores com mais técnica neste vetor (especialmente no que respeita a passes médios, longos, tensos e em arco).  Um dos aspetos mais importantes do futebol diz respeito ao capítulo do passe, porque é este que liga a equipa, que contribui para determinar estratégias (jogar para ou pelo corredor central, jogar para ou pelo o corredor lateral) e que potencia o êxito dos colegas (os chamados passes de morte, onde Fàbregas é maravilhoso);

– Remate (com os pés ou com a cabeça, de bola corrida ou parada): A forma como se remate (curta, média, longa distância) exige técnica. Ainda que seja um contacto rápido e único com a bola, a técnica (leia-se, a forma como o contacto com a bola, apoiado pela posição corporal, ocorre)  é determinante. Há jogadores, como o Lampard, que revelam um grande índice de aproveitamento em remates de meia distância, quando comparados com a média, porque possuem técnica.

– Tackle (com os pés ou com a cabeça, de bola corrida ou parada): Mesmo no desarme é possível graduar a habilidade no contacto com a bola.  O tackle pode exigir um excelente nível técnico, desde a apuradíssima técnica do corte à flor da relva à Gamarra (que usava o calcanhar para roubar a bola ao oponente e ficar com ela) e porque não, à Marco Aurélio (que utilizava aquela perna longa para “pisar” a bola e resgatá-la ao adversário), aos  cirúrgicos cortes de cabeça que no mesmo gesto não só desviam a bola como a colocam no companheiro de equipa (Pepe é muito bom nesta abordagem). A técnica no tackle potencia não só o sucesso na eliminação da posse de bola do adversário de forma mais eficiente e conclusiva (é diferente cortar a bola para fora, dando a bola novamente no adversário, do que a colocar num dos seus colegas de equipa), como tem um papel importante no despoletar de jogadas no processo de transição momento defensivo/momento ofensivo, dando-se este mais rapidamente (é diferente um corte contra as pernas do adversário que dá lançamento, apenas marcado alguns segundo depois, que um corte que direciona a bola direitinha para o colega da equipa) e de forma mais eficaz (porque quanto mais rápida é a transição mais hipóteses há de apanhar a equipa adversária desorganizada defensivamente).

Neste vídeo é possível constatar que há determinados desarmes que exigem uma considerável capacidade técnica por parte do executante.

– Lançamento: Colocar a bola com as mãos no terreno de jogo, além da técnica rudimentar exigida, revela que esta pode ser importante para transformar simples lançamentos em autênticos cantos. Não basta força, exige conciliação desta com a capacidade da colocar na zona desejada, ou seja, exige técnica. Fazendo alusão aos guarda-redes, quanto maior técnica maior capacidade haverá de colocar a bola com conta peso e medida no colega (quem se pode esquecer as bolas teleguiadas enviadas pelas mãos do gigante Schmeichel quase até à linha do meio campo?).

Se isto não é técnica ao serviço do futebol não sei o que será! (mas a seguir podia ir para o circo que ninguém se importava).

– Guardar a bola: Manter a bola protegida e fora do alcance do adversário exige técnica. Pedro Barbosa foi um dos maiores exemplos da importância desta habilidade. Permite manter a posse de bola e pautar o ritmo de jogo (leia-se, decidir se avanço já para a próxima etapa – passe, drible, remate – ou se aguardo por melhor momento);

– Defesa (Guarda-redes): A forma com os guarda-redes defendem as suas balizas são reveladoras do nível da técnica que ostentam. A melhor técnica será aquela que melhor permitirá ao guardião impedir o golo, independentemente da elegância com que o faz. A elegância é uma técnica, mas não no sentido aqui tratado, não só porque futebol não é bailiado, como não tem repercussão direta na eficácia como a bola é retirada.

Neste vídeo é possível constatar a técnica ao serviço da baliza (1.18 segs. e  2.32 segs.)

Quando alguns afirmam que um jogador é fraco tecnicamente, nem sempre corresponde à verdade. Importa ter noção do conceito, analisar e só então qualificar.  Jardel era fraco no “drible” mas era fortíssimo no “remate” (principalmente, mas não só, de cabeça). Dominguez era ótimo no drible, mas era surreal no passe. Becham era formidável no passe e no remate mas era fraco no tackle (não porque fazia poucos carrinhos mas porque recuperava poucas bolas ao adversário). Todos eles eram bons tecnicamente, desde que analisados pelo parâmetro que mais os favorecia. E todos eles eram fracos tecnicamente, desde que analisados pelo parâmetro que mais os desfavorecia.

Zidane

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