Humildade
Deixo um trecho da entrevista a Vítor Pereira relativamente ao período em que privou com Guardiola:
Vítor Pereira – “Não, não chega. Descobrir coisas novas é o que mais sentido faz para um treinador (…)Continuei a dizer-lhe. “Pep, está a acontecer-te isto, isto e isto. Esta é a minha opinião. Se quiseres, reflete”. Ele concordou e respondeu-me: “Tens razão. Já percebi isso. Mas ando à procura de um exercício que me permita resolver o problema”. Eu disse-lhe: “Vou dar-te uma sugestão. Se aceitares, aqui está. É assim”. E dei-lhe um exercício, explicando-lhe que já tinha sentido aquele mesmo problema em equipas minhas e que tinha resolvido daquela forma. “Resulta de certeza absoluta”, expliquei-lhe. “Nunca tinha pensado nisso”, diz-me o Pep (…) De seguida aparece ele e diz-me: “Vítor, Vítor, vais ver o treino? Hoje vou começar a fazer o que me disseste”. Mas como é um génio, que nunca está satisfeito, foi ainda mais longe: “Se calhar, pegando na tua ideia, ainda dá para colocar isto aqui e aquilo ali”. Ou seja, acabou por adaptar a ideia à forma de jogar da equipa dele. Tem uma capacidade fora do comum”.
Os grandes treinadores não deixam do ser quando manifestam o desejo de aprender e evoluir recusando velhas máximas do “já sei tudo”, ou “o que sei é irrefutável”. Assumir uma postura ao serviço da aprendizagem, da evolução, do câmbio das ideias é a coisa mais natural do mundo, porque faz-nos progredir e ser melhor hoje daquilo que éramos ontem.
Quantos treinadores com o currículo do Guardiola não olhariam com desdém para Vítor Pereira, colocando-se em bicos de pés numa postura adversa à assunção de novos métodos e de novas abordagens?