La Stratégie

by Alexander Sweden

Month: Novembro, 2014

Humildade

Deixo um trecho da entrevista a Vítor Pereira relativamente ao período em que privou com Guardiola:

Vítor Pereira – “Não, não chega. Descobrir coisas novas é o que mais sentido faz para um treinador (…)Continuei a dizer-lhe. “Pep, está a acontecer-te isto, isto e isto. Esta é a minha opinião. Se quiseres, reflete”. Ele concordou e respondeu-me: “Tens razão. Já percebi isso. Mas ando à procura de um exercício que me permita resolver o problema”. Eu disse-lhe: “Vou dar-te uma sugestão. Se aceitares, aqui está. É assim”. E dei-lhe um exercício, explicando-lhe que já tinha sentido aquele mesmo problema em equipas minhas e que tinha resolvido daquela forma. “Resulta de certeza absoluta”, expliquei-lhe. “Nunca tinha pensado nisso”, diz-me o Pep (…)  De seguida aparece ele e diz-me: “Vítor, Vítor, vais ver o treino? Hoje vou começar a fazer o que me disseste”. Mas como é um génio, que nunca está satisfeito, foi ainda mais longe: “Se calhar, pegando na tua ideia, ainda dá para colocar isto aqui e aquilo ali”. Ou seja, acabou por adaptar a ideia à forma de jogar da equipa dele. Tem uma capacidade fora do comum”.

Os grandes treinadores não deixam do ser quando manifestam o desejo de aprender e evoluir recusando velhas máximas do “já sei tudo”, ou “o que sei é irrefutável”. Assumir uma postura ao serviço da aprendizagem, da  evolução, do câmbio das ideias  é a coisa mais natural do mundo, porque faz-nos progredir e ser melhor hoje daquilo que éramos ontem.

Quantos treinadores com o currículo do Guardiola não olhariam com desdém para Vítor Pereira, colocando-se em bicos de pés numa postura adversa à assunção de novos métodos e de novas abordagens?

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Porque razão a capacidade física é tão desprezada?

Primeiro de tudo porque a maior parte dos ditos especialistas de determinada blogsfera especializada e dos adeptos do futebol não sabem o que é.

É legitimo não saber o que é. O que não é legitimo é não saber o que é e querer atribuir-lhe um máxima que não lhe é aplicável e dar-lhe um papel redutor.

Os jogadores profissionais de futebol não são todos iguais no que à capacidade física  diz respeito.  Tal como a capacidade técnica e de decisão, também a capacidade física é distinta de jogador para jogador. Existem jogadores excecionais em termos de capacidade física, e existem jogadores que possuem os padrões mínimos para serem jogadores profissionais. Ser muito bom neste padrão pode fazer diferença no contexto atual do futebol, não porque seja por si só suficiente, mas porque pode potenciar o sucesso da equipa quando conjugado com parâmetros técnicos e de decisão.

A capacidade física não significa apenas força. Engloba este conceito, mas não é sinónimo, porque é muito mais do que isso. Além da força (que pode viabilizar remates violentos, grande poder de impulsão, aguentar o choque), envolve a capacidade de coordenação (pode contribuir para que o atleta evite lesões e que apresente menos fadiga);  a velocidade ( O que seria de Bale ou Robben sem se destacarem neste capítulo?); a flexibilidade (permite determinados gestos técnicos específicos); agilidade (permite realizar mudanças rápidas de direção).

Ao contrário do que é dito por supostos especialistas,  que andam a enganar a malta por detrás de uma douta ciência, a capacidade física é importantíssima num jogador de futebol e não é possível analisar o futebol de uma forma séria partindo do pressuposto que todos os jogadores são semelhantes no que à capacidade física diz respeito.

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Quaresma destrói teorias

Os fanáticos da boa decisão nunca compreenderão jogadores como o Quaresma e nunca os colocariam a jogar, até porque são mais exigentes que Mourinho e Jesus. 

Primeiro, porque graduam tudo sob a lente da decisão, mas paradoxalmente não distinguem a decisão mais determinante para o sucesso da equipa de uma decisão a la João Moutinho. Segundo, porque não entendem que a decisão é orfã de parâmetros técnico-táticos e físicos ( logo não é sensato esquece-los), e que estes podem compensar uma menor capacidade na hora de decidir. Não sendo esta realidade a ideal, muitas vezes resolvem só por si os problemas que os supostos jogadores inteligentes se revelam impotentes para resolver.

Firmino: A melhor decisão

Foi a melhor decisão? Provavelmente foi. Milhares de jogadores tomariam essa suposta melhor decisão, a diferença é que mandariam a bola para as couves. Continuaria, ainda assim, a ser a melhor decisão ou ela estaria órfã de determinados parâmetros técnicos que quase ninguém no mundo possui?

Faz sentido destacar o parâmetro “decisão” (muito importante) e omitir tudo aquilo que a suporta?

Tiki-taka?

1Tendo em conta que a blogsfera leonina (e a capa do jornal Record) anda em polvorosa com o lance do terceiro golo do Sporting no último jogo da Champions, achei interessante partilhar convosco alguns, poucos, comentários.

Qual era uma das chaves do sucesso do tiki-taka? Seguramente o adormecimento do adversário através de constantes trocas de bolas (normalmente através de passes médios e curtos) para depois, num ápice, num gesto repentino, quebrar a monotonia e atacar o adversário, tal predador que se mantêm inamovível até despoletar o golpe fatal na vítima distraída. Neste caso, o golpe fatal foi dado por “La Culebra” (suportado por índices físicos fora do normal) e uma decisão (mental e física) bastante oportuna (nem sempre abundante neste jogador).

O lance em análise (disponível aqui) utiliza a mesma fórmula (mas é distinto jogar tiki-taka do que fazer algumas jogadas pontuais de tiki-taka, realidade esta que se observa em muitas equipas de futebol) e é digno de louvor, não só pela dificuldade de haver sucesso quando tantos elementos dão o seu contributo, como pela beleza plástica que nos proporciona.

O mais curioso, no entanto, é que no meio de tanta boa decisão, o que proporcionou a melhor delas (o passe de morte do peruano), foram os aspetos técnico-físicos do Carrillo. No contexto da boa decisão muitas vezes o aspeto catalisador, o que permite subir o degrau da excelência no aspeto decisório, é o físico e a técnica. Sem estes, a decisão muitas vezes é exercida apenas num âmbito de entretenimento do que num aspeto crucial para sucesso da equipa. A melhor decisão (a que mais contribui para o sucesso), muitas vezes está refém de um lampejo de força, de velocidade ou do drible fora do comum de algum dos seus intervenientes. Porque o futebol não é xadrez, não necessita apenas do cérebro, porque sem um físico que lhe dê corpo, as boas ideias podem não sair do plano intermédio. Dão boas oratórias, mas muitas vezes não ganham jogos.

Quando o Barcelona serve de exemplo eu desconfio

Tenho verificado, algures, no sentido de justificar alguma conceção de jogo, o recurso aos jogadores do Barcelona e ao modo como estes jogavam entre si.

Recorrer a uma as melhores equipas da história do futebol para justificar o que quer que seja, deixa-me sempre de pé atrás. Se preciso de recorrer a uma equipa tão específica, sui generis e rara no contexto futebolístico, não será que aquilo que procuro justificar só faça sentido num cenário também ele acidental e não aplicável à generalidade dos casos?

Na ciência médica, a aplicação de uma realidade extraordinária para justificar uma opção recorrente resultaria em mortes em massa. Seria o caso de começar-se a utilizar a aspirina para tratar todos os cancros só porque um paciente, sob o feito placebo, viu as células cancerígenas regredirem extraordinariamente após aquela toma. O médico negligente diria “vejam como aquele paciente ficou curado, vejam como se descobriu a cura!”.

Mesmo no âmbito das ciências humanas, como o Direito, existe a figura do homem médio (muito útil no Direito Penal). Este homem, uma ficção criada pelo julgador (juiz) na ora de decidir, é um sujeito que nem é demasiado inteligente, nem demasiado burro, nem demasiado culto, nem apreciador da Casa dos Segredos. No fundo, o nível médio tendo em conta a sociedade onde o caso a resolver judicialmente se disputa. E é com base e com referência a este homem médio, e no comportamento que em determinada situação este assumiria, e não num homem excecional ou no mais inteligente, que o juiz vai decidir determinado caso.

Partir de uma premissa excecional (como o futebol do Barcelona) para justificar uma conceção ou uma regra que depois queremos aplicar a tudo, é querer dar voz ao ditado “com papas e bolos se enganam os tolos”.

Para eu determinar se um jogador é bom, eu não recorro ao Maradona (porque me vai dar um resultado enganador e fazer parece-lo mais fraco do que realmente é), mas sim ao jogador médio daquela posição.

Desconhecer este princípio básico, retira credibilidade a quem pretende fazer doutrina. Se todo o edifício está construído num alicerce fraco e falacioso, em qualquer momento ele pode ruir. Para produzir conhecimento, eu devo conhecer as regras básicas da ciência, caso contrário deixarei de ser um “professor” e passarei a ser um merceeiro que vende banha da cobra.

Para se dar sustento a uma teoria, não é preciso recorrer ao excecional, porque sendo a amostra excecional, os resultados serão seguramente enganadores, porque existem grandes probabilidades desses resultados só fazerem sentido em situações também elas excecionais (e não na maioria dos casos como podemos querer fazer crer). Se a teoria estiver correta ela quase fala por si, e qualquer equipa média te ajudará a fundamentá-la.

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Lopetegui e o instinto de sobrevivência

Ao contrário do que tenho ouvido, Lopetegui não está a começar a perceber o futebol português. Aquilo que se está a manifestar é o seu instinto de sobrevivência a decidir por ele.

Por outras palavras, o facto do treinador espanhol começar a revelar preocupação em estabilizar a equipa diz respeito à necessidade exacerbada de pôr a jogar o maior número de jogadores, algo que só a famigerada rotatividade permitia, se ter vindo a revelar infrutífera.

Lopetegui não acreditava na rotatividade, apenas se submeteu a ela como forma de concretizar as expetativas criadas na hora de seduzir e convencer os jogadores do país vizinho a ingressar no projeto portista.

Perante o provável colapso desta opção, o espanhol viu-se perante um dilema: cumprir as expetativas que alimentou e arriscar-se a ser despedido (perdendo a maior oportunidade de construir um percurso de treinador no futebol profissional, e logo num clube que faz carreiras a partir do quase nada); ou, dar voz ao instinto de sobrevivência, deixando cair as expetativas anteriormente geradas. Se os jogadores não o protegeram, garantindo-lhe bons resultados, não faz sentido que o treinador continuasse a colocar, por eles, a cabeça no cepo.

Lopetegui, pelo menos teve a virtude de compreender isso em tempo útil (já Paulo Bento não teve a inteligência de perceber que não devia fidelidade a determinados jogadores a partir do momento em que estes o deixaram de proteger com as exigíveis boas exibições) e ainda vai a tempo, perante o plantel de que dispõe, de ganhar quase tudo (a Taça de Portugal já la vai).

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Gonçalo Guedes mais forte que Ronaldo?

“É um talento emergente do futebol português e, na minha opinião, pode tornar-se mais forte que Cristiano Ronaldo”, defendeu o empresário de Gonçalo Guedes.

A inexistência de um código de conduta rigoroso aplicável aos empresários do futebol torna estas afirmações sem punição. Se ontem foi abordada a importância dos treinadores colocarem água na fervura no que respeita ao manter o ego dos jovens jogadores inamovível, hoje destaca-se a estúpidez humana.

Qual a vantagem de proferir estas afirmações completamente sensacionalistas na perspetiva do jovem atleta? Nenhuma, a não ser criar ilusões que competirá depois ao Jesus gerir com a ajuda de um extintor.

Na perspetiva do empresário percebe-se a avidez, a pressa em potenciar um dos seus ativos. Mas não seria suposto que este olhasse primeiro para os interesses do seu representado em vez do próprio umbigo?

Urge às instâncias regular o papel dos agentes do futebol. Não é bom para o espetáculo observar no palco principal uns a potenciar o sucesso futebolístico dos jovens e os demais a potenciar os próprios bolsos e o risco de mais uma promessa falhada.

Recordando o blog O Artista do Dia, que salienta alguns dados estatísticos do jogo de ontem do Sporting versus Schalke 04, salta à vista o desempenho do Sarr. Ontem tinha escrito, sem acesso a quaisquer dados, que o jovem francés não tem pé cego. Os números hoje  vêm manifestar que nas 33 tentativas de passe, não falhou nenhum. Vale o que vale, mas a estatística é útil para nos manter conectados à realidade, para consolidar ou ajudar a deitar por terra algumas ideias prévias que adquirimos ao obervar um jogo de futebol.

Relativamente ao alto índice  do João Mário ao nível do passe (33 passes certos em 35 tentativas), não é nada de novo. Não só tudo faz sentido naquela cabeça, como têm índices técnicos que não o deixam ficar mal na fotografia. Os passes de trinta metros, de um lado ao outro do campo, com que nos tem brindado não são muito comuns no futebol português, mas são extremamente úteis porque evidenciam o chamado efeito harmónio da defesa contrária (o ajustamento que as equipas fazem em termos da ocupação da largura do campo de acordo com o local onde está a bola); como o esférico é mais rápido que a readaptação do posicionamento dos jogadores à nova realidade (o mais recente local onde aquele se encontra), permite, a quem recebe o passe, decidir e executar num ambiente menos stressante, o que fomenta mais probabilidade de êxito na decisão e na respetiva execução.

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Soltas

Carrillo a quebrar mitos. A capacidade física não é igual em todos os seus vetores entre todos os atletas de alta competição. As pequenas diferenças podem traduzir-se na prática em enormes diferenças. No que respeita à velocidade, Carrillo é muito mais rápido que o seu opositor da equipa alemã. Foi essa distinção que permitiu o golo do Sporting nascer. A decisão (com bola) foi fundamental, mas sem os atributos físicos e técnicos que a antecederam aquela nunca teria tido lugar.

Naby Sarr, por mais que seja tentador olhar para aquele físico e o estilo slow motion e crucificar (coisa que um profissional nunca deve fazer com base em meia dúzia de jogos, muito menos perante um atleta estrangeiro e jovem.  O debitar de sentenças prévias são para os adeptos) a verdade é que pode progredir muito através de um plano de melhoria criterioso (voltarei a falar nisso num futuro post). Não é propriamente lento, usa a sua alta estatura para cobrir o jogo aéreo e o pé esquerdo não é cego. Terá que melhorar ao nível de perceção do jogo, da distância que deve estar do sector do meio campo  e dos seus colegas defensivos em cada contexto (onde a defesa leonina contínua a mostrar lacunas, e que erroneamente se chama de profundidade, potenciando o erro do jovem francês) , mas tendo em conta os 21 anos de idade, o facto ser estrangeiro e estar a vivenciar uma primeira experiência extramuros, há motivos para otimismo (as declarações de Marco Silva no flash interview sobre a evolução dos jovens jogadores expressam exatamente esse sentimento).

Cédric dá mais no momento ofensivo num jogo que o André Almeida em meia volta do campeonato. Defensivamente, não há tantas diferenças como se quer fazer parecer (até porque o jogador benfiquista tem beneficiado de uma maior proteção intersectorial, leia-se trinco e ala, que o  jogador leonino). Continua-se sem perceber as opções do Paulo Bento nas suas últimas convocatórias.

A evolução de Slimani ao nível do transporte de bola, da técnica de receção e passe têm sido demonstrativas que mesmo com 25 anos de idade se pode evoluir, mais ainda quando se passa de um contexto da 3.ª divisão mundial para um ambiente de trabalho potenciador do processo de aprendizagem.

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