La Stratégie

by Alexander Sweden

Month: Maio, 2015

Messi versus Barcelona

Palavras de Fabio Capello:

«A conquista do título demonstra a inteligência de Mourinho. Pode até ter estacionado o autocarro em algumas ocasiões, mas venceu. Recordo-me sempre da famosa frase de Giampiero Boniperti: “Ganhar é a única coisa realmente importante”. Mourinho ganha títulos, outros discutem filosofia».

Basicamente é isto que tem proliferado pela internet e pela imprensa, filosofia, vã filosofia. Realidade mais evidente sempre que se fala de Pep Guardiola. Se há treinador que goza de boa imprensa e de boa opinião especializada, independente do que faça, é o catalão e compreende-se porquê: Durante alguns anos de ouro colocou em prática o que muitos filósofos defendem, tornando-se uma espécie de guru sagrado. O problema é que o gizado pelo treinador amado resulta em determinados paradigmas, escolhidos a dedo e dentro de conjunturas incrivelmente agradáveis. Para os acérrimos defensores, o futebol de Pep é plausível de ser concretizado em qualquer equipa, em qualquer campeonato, em qualquer panorama e garante sucesso. Sempre. A realidade tem vindo a encarregar-se de provar o contrário, estando à vista um imenso desafio para o referido treinador: Adaptar-se.

Alguns paladinos, quase roçando o autismo, agarram-se a tudo o que podem para justificar os momentos difíceis de Guardiola. A derrota contra o Barcelona é disso prova. Não se podendo colocar em causa Sua Majestade, importava arranjar rapidamente um bode expiatória que mantivesse imaculado o estilo de jogo da Realeza. Desta vez foi Messi, à próxima será outra coisa qualquer. Li que foi este quem ganhou o jogo. Li ainda que quem não entende isto, não há nada que se possa fazer por pobre alma. Tudo isto me parece incrivelmente arrogante e desonesto do ponto de vista intelectual, tal como o será quando se defende que a estratégia de jogo do Bayern foi acertada, mas que contra Messi a melhor estratégia não resulta!

Perante estes argumentos, quem não conhecesse o fenómeno argentino, julgaria que Messi, quando está em grande forma, ganha sempre. Que o Barcelona, neste contexto, ganha sempre. Que são ficção pura os jogos em que Messi, em grande forma, não impediu os Blaugrana de serem eliminados da Champions, já que o argentino é impossível de travar.

Esta argumentação é igualmente perversa porque leva a crer que quem ganhou o jogo foi Messi e não a equipa. É menosprezar o conjunto e louvar o indivíduo. Por outras palavras, é produzir uma máxima antagónica a tudo aquilo que representa o futebol: um desporto de equipa. Ninguém ganha nada sozinho (nem Maradona no Nápoles). O Barcelona ganhou o jogo porque teve uma melhor estratégia, porque a equipa defendeu bem (se não o tivesse feito e ainda assim os golos de Messi tivessem acontecido, não seriam suficientes para garantir um bom resultado), e porque potenciou, pela forma como jogou em prol do bem comum, a genialidade do pequeno grande jogador.

Transformar a vitória do Barcelona na vitória de Messi é não gostar nem entender o que é o futebol. É ver apenas o futebol numa perspetiva esporádica (esquecendo todos os outros momentos de jogo) e individual (esquecendo o conjunto), quando o futebol deve ser analisado como uma interação de fenómenos, onde todos os jogadores dão o seu contributo e contribuem de alguma forma para o sucesso ou insucesso da equipa. Todos ganham, todos perdem, todos estão no mesmo barco e não adianta negar o inegável só para defendermos o indefensável. Não foi Messi que ganhou o jogo, foi a equipa.

Guardiola está refém do seu modelo, o qual precisa urgentemente de alojar os pés na terra e ajustar-se à realidade. O Barcelona de Pep Guardiola foi um sonho idílico que dificilmente se voltará a repetir nos próximos anos. Foi um regime de exceção que funcionou muito bem com um modelo de jogo também ele de exceção. Caindo o regime, deve com ele cair também o modelo que lhe dava sustento. Não significa passar uma esponja e começar tudo de novo, basta introduzir mais calculismo e menos filosofia, principalmente daquela que os filósofos gostam, mas que, tal com a argumentação cega usada para a defender, corre sérios riscos de se tornar cada vez mais infrutífera. Guardiola pode ganhar em Munique? Seria a melhor coisa que poderia acontecer, este ano, a nível mundial. Bombástico. Se acontecer cá estarei para analisar o jogo e dar os parabéns a quem realmente o merece: não a um jogador, seria um erro crasso, mas à equipa.

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Rescaldo de um jogo fantástico

O eletrizante jogo entre Barcelona e Bayern serviu para muito mais do que manifestar o génio de Messi,  mesmo que nos dê jeito para abafar prognósticos estéreis. Assim como o futebol amador provoca, por vezes, mazelas impossíveis de ultrapassar, impedindo a ascensão ao futebol profissional, este jogo serviu para desmistificar a recente paixão adolescente pela posse de bola e demonstrar as vulnerabilidades do Guardiola, realidade não alheia ao facto de sempre ter tido tudo de mão beijada. Viciado em treinar as melhores equipas, os melhores jogadores, fê-lo baixar a guardar, e pior do que isso, nunca consegui criar anticorpos que apenas as dores de crescimento permitem adquirir. Nunca andou na lama, e o ser humano, para se aperfeiçoar, precisa de catarse. Quiçá, seja agora, o momento oportuno.

Jogar obcecado pela posse da bola é bonito, permite construir interessantes desenhos disseminados pela blogosfera ou bonitas quadras para os editores de alguns periódicos que não deviam ser chamados de jornais (porque não fazem jornalismo), mas, só por si, não ganha jogos. A posse de bola não é um fim em si mesma. Deve servir interesses mais importantes, a vitória. Sempre que aquela não sirva o interesse último, deve ser deixada órfã, adotando-se um estilo mais adequado ao adversário e ao local onde se situa o terreno de jogo. Jogar em Barcelona, como se jogasse na Alemanha, revela insensatez, o que se compreende pela falta de anticorpos que Guardiola nunca teve oportunidade de criar. A estratégia montada para qualquer equipa termina sempre por estar submissa à estratégia e ao potencial da equipa adversária. Guardiola foi autista, não manifestou um plano B, porque nunca foi obrigado a ter um plano B. Habituado a reinar contra tudo e todos desde cedo, a impor a lei do mais forte, ainda está a tempo de perceber, durante a recente noite passada em branco, fruto das insónias que o orgulho ferido costuma provocar nos humanos, que precisa rapidamente de descer à terra e de se “Mourinhar”. Necessita urgentemente de se prender a objetivos mais terrenos (ganhar) e menos em modelos celestes pré-determinados, sustentados muitas vezes na estética e menos na eficácia. Nem sempre é possível conciliar as duas, e tendo que se optar, um profissional só pode escolher a segunda.

Tratando-se de um génio, mais ainda assim cheio de defeitos, creio que Guardiola saberá crescer, de emendar a mão e continuar a ganhar. As fantásticas conjunturas com que se foi deparando ao longo da carreira, e que tão sabiamente soube procurar, não lhe permitiram ter jogo de cintura, não lhe deram a conhecer que o jogo de posse é uma mão cheia de nada se não conjugada com outros fatores igualmente importantes. Ter mais posse de bola, mas não rematar à baliza adversária é um ultraje; Permitir que o seu guardião ouse espicaçar o adversário, revela que há muito está desconectado do mundo real; ou afirmar, todo contente, que Messi não pode ser marcado e nada fazer para impedir essa meia verdade, com uma estratégia distinta, adaptada ao caso em concreto, é um tiro no pé e soa a uma arrogância que merece ser bem paga. Hoje fez-se justiça.

Tudo isto serviu também para manifestar que Guardiola não passa de um humano. Agora, compete-lhe descer das nuvens, provar o fel da crosta terrestre, assumir a postura terráquea, a única que lhe cai na perfeição, e deixar a estratosfera para um único ser que nela pode habitar: Messi, quem mais?

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Porque razão há tanta gente que implementa o tuk tuk, quando afinal queria o Tika-taka?

Muitos treinadores do futebol amador, paineleiros e alguns adeptos adoram trazer à colação o chavão que o Guardiola revolucionou o futebol moderno. Consigo compreender, o Tiki-taka marcou uma era no futebol e continua a ser suspirado por aqueles que não compreendem que essa filosofia de jogo não é concretizável em 99,99% das equipas de futebol profissional; e muito menos entendem que se continuarem em insistir no plágio do modelo de Guardiola, vão, quanto muito, recordando aqui as palavras do Gordo Vai à Baliza, implementar um tuk tuk à imagem e semelhança de Lopetegui, e que se traduziu na única lufada de ar fresco (sem contar com a rotatividade inicial kamikaze), pelas piores razões,  que o treinador do Porto trouxe para Portugal: um sistema tático que criou o Porto mais fácil de bater dos últimos 30 anos.

E porque razão o Guardiola não revolucionou o futebol?   O vocábulo “Revolução” está relacionado com a ideia de mudança radical de grandes repercussões massivas, muitas vezes suscitado pelo povo. Se compararmos o Tiki-taka introduzido por Guardiola com este conceito, concluímos facilmente que:

 – Não teve grandes repercussões massivas: foi um epifenómeno, porque apenas atingiu uma equipa e uma seleção em particular. Todos aqueles que cheios de boas intenções e recém  chegados ao futebol profissional, vindos do futebol amador, obcecados ainda com a decisão (mas apenas nos contextos que gostam) e que pretendem implementar aquele futebol de posse (vid. Lopetegui) irão dar de caras com a dura realidade: Queriam um Tiki-taka, ficam com um tuk tuk. Queriam um Real Madrid, têm lugar no Cascalheira.

 – Não foi suscitado pelo povo: foi suscitado pela alta nobreza, por um treinador que escolhe à la carte jogadores muito específicos para um modelo muito específico. Jogadores que escasseiam no mercado futebolístico. Por serem tão raros, e tão caros o modelo do Guardiola torna-se quase impossível de ser replicado. Considerar o Tiki-taka revolucionário (diferente de inovador) é considerar que as louças de  porcelana Limoges são iguais às canecas das Caldas. Infelizmente muitos treinadores ainda não compreenderam que Guardiola provavelmente não cometeria o erro crasso que eles cometem, tentando implementar o Tiki-taka mesmo se treinasse o Vizela ou o Paços de Ferreira ou meia dúzia de miúdos com ranho no nariz. Trazer princípios de jogo só ao alcance de predestinados para os comuns mortais é um erro crasso. Seria o mesmo que ensaiar a banda do Toni Carreira para nos presentear com a OST do “2001: Odisseia no Espaço” ou Coro Santo Amaro de Oeiras para entoar uma ópera de Puccini. Lembrem-se, futebol não é humor nem a antecâmera do Frankenstein.

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